Rita tem uma característica muito peculiar que é combinar o exagero com a moderação, o dramatismo com a tranquilidade, o movimento com a inércia, a extroversão com a introversão, a sociedade com solidão ... (...) .Em relação ao corpóreo e material – a técnica – trata-se uma mistura magistral de desenho e cor, massa e forma, preenchimento de espaço e vácuo, gesto e não gesto, unidade e pluralidade de composição ...

Na verdade, o que une a obra de Rita a determinados períodos de um século de tradição pictórica (e em especial a épocas que procuraram revolucionar e romper com o estabelecido, provocando uma onda de escândalos) é a sua faceta primitivista, ou seja, o lado essencial, espontâneo, universal, ecuménico...

Fernando Martin Galán

(...) A casa, o motivo principal no quadro que dá o nome à série - “A casa do Inverno” – é a metáfora do ser que pensa e trabalha, matéria prima da pintura que se faz agora, refúgio onde se esconder quando tudo à volta parece desabar.

Há assim, na obra de Mário Rita, um entrelaçado de trilhos que se fazem no tempo e no espaço. Primeiro trata-se de dar corpo (no sentido literal) às imagens que regressam inexoravelmente em cada série de pinturas. Depois, é necessário apropriar-se de materiais antigos (...) e dar-lhes novo uso nas obras mais recentes. E, finalmente, é preciso dar vida a cada uma delas. Mário Rita pertence a essa estirpe de artistas que, assumidamente, fazem da vida íntima matéria-prima para a sua obra.

Luísa Soares de Oliveira

Os desenhos de Mário Rita intensa e poderosa expressão de incertezas e sonhos fundamentais, reinventam como toda a verdadeira linguagem em arte a história das formas, permitindo-nos recordar as palavras de um dos expoentes do neo-expressionismo alemão do qual está próximo:” Venho de parte nenhuma. Descendo de todos os pintores.” Arrancados a uma matéria subtil, onde a brancura do suporte abre luminosos rasgões, telúrica, ígnea, espiritual matéria ,estes desenhos demarcam uma atmosfera e um terreno por excelência do humano em afinidade com uma sensibilidade romântica.

(...) pela abertura a um mistério que radica no humano, luz tenebrosa, imagem de uma totalidade contraditória e maneirista que tão bem representa o imaginário moderno, cadinho onde fervilham todas as virtualidades do espírito e das suas formas.


O pintor escolheu muito cedo o seu referente nos territórios de um mistério de que o mundo é o espantado e maravilhoso ícone, remetendo o seu discurso para a figura humana desfeita, sinal de uma ausência anunciada, (...)

Dos gestos convulsivos, das inscrições vibrantes emergem ícones prodigiosos e fantasmáticos (...) habitantes do dédalo da história mítica do homem, reconquistados para a memória contemporânea e ícones da presença de emoções que explodem no instante de uma vivência profundamente e tragicamente contemporânea.

(...) Os gestos, os riscos, os trajectos que ligam a mão ao pensamento não aprisionam a figura, antes a captam no curso da sua migração fantástica entre universos, a luz e a noite, o ser e o não ser, a vida e o sonho.

Maria João Fernandes



(...) a pintura de Mário Rita manifesta-se à margem do saber instituído, que conhece bem, dada a sua formação académica. Naturalmente desregrada avessa a códigos previamente definidos, a sua pintura gera figuras desenraizadas e errantes.(...) figuras atrevidas, contestatárias e errantes, na sua aparente inocência (...)

Desfigurações e pré-figurações de um vocabulário elementar ,que o pintor mantém na sua pureza anárquica.

Na obra de Mário Rita, o desenho reestrutura e organiza a pintura. Ao incidir como contorno e sinal gráfico, o traço adquire autonomia expressiva; frequentemente, é também mera linha estrutural da composição.(...) A rapidez da pincelada não se compadece do tratamento de pormenores e outros acessórios aspectos aliciantes, antes se ocupa do global, em favor de uma expressão forte e directa, visceral e anti-decorativa.

Eurico Gonçalves